MotoGP, 2021, Silverstone: Quartararo mais perto do título
Raramente terá um único Grande Prémio, aparentemente sem mudar muita coisa, na verdade alterar completamente o equilíbrio de forças do campeonato
Quartararo venceu com autoridade, deixando o segundo classificado Alex Rins a 2.663 segundos, sem hipótese de fazer o sprint à meta com que bateu Marc Márquez na mesma situação dois anos antes.
Em terceiro, também num resultado que fez história, Aleix Espargaró, que fez tudo para resistir à carga tardia de Jack Miller.
Não há grande mistério na vitória de Quartararo, ou na superioridade geral das 4 em linha no traçado inglês sobre as dificuldades das V4: Além de Quartararo, que mesmo falhando a pole, esteve à frente de metade das sessões de treinos, Rossi, e até Crutchlow, estiveram bem, ou pelo menos, melhor que em corridas recentes, Rossi acabando o TL3 7º e qualificando em 8º, portanto na 3ª fila da grelha.
O facto é que em Silverstone, passa-se grande parte da volta a curvar, pondo um prémio na velocidade em curva e na estabilidade na borda do pneu, conhecidas vantagens das Yamaha e Suzuki.
Ao mesmo tempo, o traçado, antes das alterações de há uns anos, quando era basicamente um grande retângulo sempre a curvar para a direita, mesmo com a adição dum miolo para dar mais variedade em 2009, continua sem grandes travagens radicais de que as V4 possam beneficiar com a sua aceleração instantânea à saída…
Quartararo, que chegou numa posição em que não podia perder a liderança do Campeonato, por muito mal que corresse, era o favorito das agências de apostas e o vencedor mais provável, e concretizou a sua habitual fuga para dominar a corrida quase do início.
Foi ajudado, claro, pela queda de Márquez, que era outro candidato forte, e pela incapacidade das V4, quer Ducati, quer KTM, de montar um desafio à altura .
De certa maneira até foi ajudado pelos seus colegas no pódio, pois nem Rins (agora 11º) nem muito menos Aleix Espargaró, – agora em 9º mas a 116 pontos – estão em posição de o incomodar na caça ao título.
Dos que eram, até agora, os seus adversários mais fortes, e rivais ao título, Joan Mir acabou num modesto 9º lugar, e Johann Zarco ainda pior em 11º, com tudo isto a resultar no reforço do avanço do francês da Yamaha Monster, que está sentado agora em 65 pontos de avanço quando faltam sete corridas para o fim do campeonato…
Teoricamente, pois é improvável que a Argentina se venha a realizar, com as desvantagens de deslocar a caravana do campeonato em tempo de pandemia de armas e bagagens para a América do Sul após duas corridas seguidas na península ibérica que dão o cenário ideal para a entrega final de prémios em Valência.
Decerto, muito pode acontecer em sete corridas que representam, em termos de vitórias, 175 pontos, mas outra maneira de ver isto é que se Quartararo começasse a perder a vantagem que detém ao ritmo de oito pontos por corrida, ainda iria vencer o campeonato por uma boa margem.
Por exemplo, Francesco Bagnaia, que acabou de baixar para o quarto lugar ao acabar apenas em 14º e marcar apenas dois pontos, já concedeu derrota.
O desfecho é ainda mais dramático para Miguel Oliveira, que há três corridas não pontua, embora possamos descontar um Maverick Viñales imediatamente à sua frente nos pontos em 7º, que mesmo que venha a antecipar a sua participação com a Aprilia, é pouco natural que esteja em posição de se familiarizar com ela a ponto de a colocar nos lugares cimeiros ainda este ano.
Porém, o colega da KTM Red Bull Binder, fresco de vencer na Áustria, reforçou a sua posição no top seis, e por outro lado, atrás do português, vem o que se tornou agora um adversário de respeito (sempre foi, a moto é que não ajudava!), Aleix Espargaró.
Após provar o primeiro pódio tão almejado, Aleix e toda a formação de Noale vão querer agora, corrida sim, corrida sim, lutar ainda mais eficientemente pelo pódio e colocar a Aprilia nos lugares de topo.
Isto vai ser tanto mais verdade se a opção de Maverick Viñales começar a correr antecipadamente pela casa de Noale se concretizar, mais pelo efeito moralizador no piloto de ponta da marca do que, como vimos, por alguma hipótese real de Viñales começar imediatamente a apontar aos lugares cimeiros com uma moto que até agora desconhece, mais a mais passando de um 4 em linha onde militou seis anos, desde que subiu à MotoGP, a uma V4.
Realisticamente, em termos aritméticos, Mir, Zarco, Bagnaia, apesar de si próprio, e talvez até Miller, separados de Quartararo por 98 pontos, ainda estão na caça ao título.
Já se viram reviravoltas mais estranhas, até no seio da Yamaha, onde de vencedor inicial Fabio passou a um final confuso o ano passado, e o seu então colega de equipa Morbidelli veio do nada a vitórias consecutivas que lhe deram o vice-Campeonato.
Do que não há dúvida é que Fábio Quartararo, ao capitalizar na sua predileção pelo traçado britânico, rápido, cansativo, e difícil de negociar eficientemente para uma moto que não esteja perfeitamente afinada, deu uma machadada nas aspirações ao título de todos os seus rivais e está mais perto do seu primeiro título, que ninguém duvida seria bem merecido…