MotoGP, 2021, Jerez: Miller e Bagnaia: Juntos no pódio, 10 anos depois

Por a 5 Maio 2021 12:55

Os colegas de equipa da Ducati oficial percorreram um longo caminho desde o seu pódio de estreia juntos em Albacete, quando venceram no CEV em 2011

“Absolutamente sem palavras! Só queria que a minha família estivesse aqui para partilhar esta vitória connosco! Obrigado Ducati e a todos pelo apoio!” Jack Miller

Pela primeira vez no Circuito de Jerez-Angel Nieto, a Ducati Lenovo sacou um 1-2 graças a Jack Miller e ao seu companheiro de equipa Francesco Bagnaia.

Foi um domingo emocionante na Andaluzia, em que o australiano expulsou alguns demónios do início da temporada e silenciou os críticos para se colocar no degrau superior de um pódio de MotoGP apenas pela segunda vez.

Mas não foi apenas o primeiro 1-2 da Ducati em Jerez. Foi o primeiro 1-2 da fábrica de Bolonha desde Brno 2018, um dia em que Andrea Dovizioso liderou Jorge Lorenzo na meta, e foi também a primeira vitória da Ducati na famosa pista desde 2006, quando Loris Capirossi venceu.

Mas os 1º e 2º de Miller e Bagnaia têm um significado mais profundo e maior por detrás.

Muitos dos pilotos que vemos na cena de Grande Prémio desenvolvem as suas capacidades de corrida no Campeonato FIM CEV Repsol, e a dupla vermelha da Ducati faz parte do grupo de elite que conseguiu chegar ao topo.

Se rebobinarmos 10 anos, as suas carreiras estavam apenas a começar.

No Circuito de Albacete, no dia 11 de Setembro de 2011, um jovem de 14 anos chamado Francesco Bagnaia ganhou o seu primeiro 125GP no então denominado Campeonato Espanhol para a equipa da Caixa Repsol que também teve Alex Márquez e Alex Rins a correr para eles nessa temporada, e bateu por seis segundos um certo jovem australiano chamado Jack Miller, na sua primeira viagem ao pódio.

Quem sabia que quase 10 anos mais tarde o fariam de novo, para uma equipa de fábrica na MotoGP.

“Foi o meu primeiro pódio, também o primeiro pódio do Pecco, no Campeonato de Espanha. O problema é que eu era mais ou menos da mesma altura que sou agora, e honestamente, o Pecco dava-me por aqui (aponta para a anca), pequenote e sempre pensei que este jovem, (que idade tinhas? 13, 14?) ia ser alguém!”

“Eh, se pensarmos bem, e alguém dissesse que seríamos colegas de equipa na Ducati de  fábrica e seríamos 1-2 em Jerez em 2021… não acreditava. Diz-se que não se acredita, mas os sonhos tornam-se realidade.”

“Sim, 10 anos… isso é bastante impressionante. Isso é fixe, isso é fixe como o c*****!”.

Sem usar o palavrão de Miller, é realmente fixe. São vitórias e pódios como estes que fazem com que todos os sacrifícios valham a pena para Miller e os seus rivais.

Todos viram a inundação de emoções gravadas no rosto de Miller e na sua voz quando ele estava no Parc Ferme; os pilotos dedicam as suas vidas a este desporto, por vezes fazendo-o a milhares de quilómetros de distância de casa.

Este negócio, como muitos outros, é muito duro.

Até Jerez, a vida de Miller como piloto de fábrica passou a ser analisada desde o início da campanha de 2021, após um início abaixo da média. Tido como um dos candidatos ao título na pré-época, um par de nonos em Losail e uma queda em Portimão levaram a críticas ao australiano.

Os problemas com a tendinite e os pneus desempenharam o seu papel em desempenhos pouco impressionantes, e o acidente da Curva 3 em Portimão rebentou os pontos no seu antebraço direito devido à cirurgia recente.

Mas Miller é um lutador, e o rapaz saiu por cima no GP de Espanha.

Aproveitando as desgraças de Fabio Quartararo da Yamaha Monster Energy com a tendinite no domingo, o mais recente vencedor australiano em MotoGP manteve a coragem para garantir 25 pontos, um resultado que tem ansiado desde que deixou Assen naquele famoso dia molhado em 2016.

Na conferência de imprensa pós-corrida, Miller admitiu que as últimas semanas têm sido difíceis, e como alguém próximo o tem ajudado a continuar a acreditar na sua capacidade. 

“Tenho estado numa montanha-russa de emoções, estas últimas semanas não têm sido fáceis. Tenho estado zangado, frustrado, sem confiar em mim próprio. Terei de dizer uma coisa, tenho agora um novo treinador de vida, digamos”, disse Miller.

“Normalmente é a minha mãe, mas ela não é muito boa”.

“A Lucy Crutchlow (esposa de Cal Crutchlow) chamou-me do nada durante o fim-de-semana e disse ‘és bom, és mesmo bom, vais conseguir’, foi bastante agressiva assim. E até me enviou um texto esta manhã, pelo que tenho de dar um enorme obrigado à Lucy, porque sabe bem ouvir coisas assim às vezes. É preciso. Afinal, somos todos humanos, todos temos dúvidas”.

Essas dúvidas foram agora dissipadas.

Além disso, o 1-2 de Miller e Bagnaia apenas mostra como é excelente o Campeonato FIM CEV Repsol para a próxima geração de pilotos, juntamente com todos os outros programas Road to MotoGP que a Dorna Sports e os seus parceiros organizam tão eficazmente.

Bagnaia descreve o CEV Repsol como “uma grande escola”, e claramente, o italiano foi bem ensinado, pois depois de já ter sido Campeão do Mundo de Moto2, é agora pela primeira vez o líder do Campeonato Mundial de MotoGP.

De uma pista histórica espanhola em Albacete para outra em Jerez, uma viagem de 10 anos de sangue, suor e lágrimas juntou de novo Miller e Bagnaia, que partilharam pela primeira vez os dois primeiros degraus do pódio na classe rainha.

A Ducati espera que seja a primeira de muitas ocasiões semelhantes para a sua dupla de fábrica.

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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