As outras classes de GP, 10: A Benelli 250 Quattro

Por a 26 Janeiro 2021 18:00

Exótica e influente, a Benelli 250 4 abriu caminho aos modernos motores multi-cilindro mas uma falta crónica de financiamento ditou o seu desaparecimento

Grassetti surpreendeu o mundo batendo as aparentemente invencíveis Hondas de fábrica de Jim Redman e Tom Phillis

Já em 1939, a Benelli revelara uma espetacular 250cc sobrealimentada e refrigerada a líquido com uma performance inacreditável: 52.4cv às 10.000rpm e uma velocidade máxima de 230 Km/h.

O surto da guerra e a proibição da sobrealimentação pôs um fim prematuro ao projeto, mas em Junho de 1960, vinte anos depois, a empresa de Pesaro revelou uma nova moto de corrida de 250cc, quando foi forçada a reconhecer que precisava de uma máquina multi-cilindro para se manter competitiva na classe de 250cc de Grand Prix.

A empresa italiana foi capaz de aproveitar a experiência passada deste tipo de máquinas, da tal tetracilíndrica quarto de litro de 1939.

Só vista pela primeira vez em 1960, a Benelli 250 4 não correu competitivamente até Abril de 1962, quando Silvio Grassetti estreou a moto em Imola. Ao contrário da rival MV Agusta e das Gilera, (e da 250-4 de 1940), o novo motor Benelli tinha cilindros quase verticais.

O seu quadro duplo berço portante logo deu lugar a um quadro clássico e, após dois anos de desenvolvimento, a Benelli começou a correr nesse ano.

Apesar de eliminado por uma válvula torta na primeira corrida, Grassetti surpreendeu o mundo das corridas uma semana depois em Cesenatico, batendo as aparentemente invencíveis Hondas de fábrica de Jim Redman e Tom Phillis.

O desenvolvimento continuou em 1965, com uma caixa de oito velocidades nova para essa temporada, mas por esta altura a Honda já estava a fazer uma 250 de seis cilindros montada pelo melhor piloto do mundo: Mike Hailwood.

Esticando os seus recursos limitados ainda mais, a Benelli avançou com o desenvolvimento de uma 350 e uma 500 de 16 válvulas.

Na sua versão original de seis velocidades, o 250-4 transversal desenvolvia 40 cv às 13.000rpm, que subiram para 55 cv às 15.000 rpm, e pesava pouco menos de 130 kg.

Refrigerado a ar, e com dimensões de diâmetro e curso de 44 x 40,6 mm, a ignição era por magneto e a lubrificação por cárter seco.

O motor de 8 válvulas era comandado por DOHC e usava 4 carburadores Dell’Orto, caixa de 7 velocidades e embraiagem seca.

Anteriormente a marca tinha usado um travão de tambor de quatro maxilas controladas por atuadores duplos, que exigiam habilidade e uma mão direita forte.

Com o seu piloto Nº 1, Tarquinio Provini, forçado a reformar-se prematuramente por lesão após uma queda na Ilha de Man, Benelli assinou com Renzo Pasolini, que rapidamente recompensou a fé dos seus novos patrões ao vencer os Campeonatos Italianos de 250 e 350 em 1968.

Em 1969, o último dos fabricantes japoneses tinha saído dos Campeonatos Mundiais, abrindo caminho para que as Benelli 4 se apoderassem duma fatia da glória em Grande Prémio.

Agostini e a MV Agusta mantiveram-se inatacáveis nas classes 350 e 500 a nível do Campeonato do Mundo, mas na categoria de 250, a Benelli acabou por levar a melhor sobre a Yamaha de Kent Andersson e a Ossa de Santiago Herrero, com o Australiano Kel Carruthers (abaixo) a trazer o Campeonato de volta a Pesaro.

Houve aparições esporádicas nos anos seguintes, pois mais tarde as quatro cilindros de 250 foram banidas, mas essa gloriosa temporada de 1969 marcou efetivamente o fim da campanha do Grande Prémio da Benelli.

A Benelli mostrada aqui foi usada pelo grande Tarquinio Provini para vencer o Grande Prémio de Espanha em Montjuic Park, Barcelona em 1964, a segunda ronda do Campeonato do Mundo desse ano.

Completou mais três GPs nessa temporada, terminando em 4º em Assen e em 5º nas rondas belga e alemã, terminando em 5º lugar no Campeonato no final da temporada.

A fábrica queria que a máquina fosse tão rápida como uma bola de canhão, daí o esquema de cores de cinza ferro…

Depois da sua primeira vitória em 1964 em Barcelona, o 250 4 distinguiu-se em 1965 ao vencer o Grande Prémio das Nações em Monza e ao tornar-se temporariamente a primeira máquina de fábrica a usar travões dianteiros hidráulicos de disco.

Só no final dos anos sessenta é que a Benelli 4 dominou a cena internacional primeiro com Renzo Pasolini e depois, em 1969, Kel Carruthers, que ganhou o campeonato mundial de 250cc.

Foi um dos dois únicos títulos mundiais já detidos pela Benelli. Ambiciosamente, a Benelli planeou então um bizarro V8 de 32 válvulas de 250cc, mas mais uma vez o projeto foi vítima de uma mudança nas regras, que restringiu os motores de 250cc a dois cilindros e pôs fim à presença da Benelli no Mundial.

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Paulo Araújo
Jornalista especialista de velocidade, MotoGP e SBK com mais de 36 anos de atividade, incluindo Imprensa, Radio e TV e trabalhos publicados no Reino Unido, Irlanda, Grécia, Canadá e Brasil além de Portugal
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