Ensaio – MV Agusta Brutale 800: O sangue latino
Nunca fui um fá de motos naked, mas a nova Brutale 800 conseguiu levar-me ao tapete. Não no sentido literal, felizmente, mas dobrou a minha arrogância em relação às motos naked, graças a uma ciclística que me tornou 20 anos mais novo, tal foi o nível de emoção.
Há duas fases distintas na análise da nova MV Agusta Brutale. A da contemplação e a da acção. É impossível não demorar o olhar nesta moto. O seu nome diz tudo, assim como a quantidade de pormenores deliciosos. É simplesmente brutal.
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Pode não parecer à primeira vista, mas a Brutale 800 foi completamente renovada para 2016, não só na concepção do chassis, mas também no desenvolvimento do motor tricilíndrico com 798 cc.
Antes de avançar, tenho de confessar que este não é o meu género de moto, apesar de achar o design irresistível. Assim de repente, não me lembro de moto mais sexy do que esta. Provavelmente até há, mas para mim, agora, não há. Esta MV é linda de morrer.
A razão pela qual não aprecio este tipo de naked, é reforçada quando me sento em cima da Brutale e arranco para os primeiros quilómetros no centro de Lisboa. Faz-me logo confusão não ver a moto. Com as costas direitas, da janela do capacete só vejo estrada e o ambiente em redor. Se olhar mais para baixo, lá aparece um ecrã digital no meu campo de visão. Depois, vem o resto da estranheza. Um banco duro que nem pedra e uma suspensão firme que castiga as vértebras à mínima insolência do asfalto, apesar da postura cómoda do braços e das pernas. É uma posição de semi ataque, ou de ataque, mas com alguma descontração. E disso gosto.
Há medida que vou andando, percebo imediatamente o temperamento diabólico da Brutale. Acelerador a mais em 1ª ou 2ª é garantia de roda no ar, sempre. Esta leveza da frente, e de todo o conjunto, já que são 175 kg (a seco) para 116 cv, causa-me apreensão na hora de explorar a MV Agusta com a exigência que se impõe. Em curvas feitas a velocidade elevada, fico sempre com a sensação que não vai ser preciso muito para apanhar um susto… O que acaba por nunca acontecer. Sinto-me apreensivo por que é uma naked compacta e potente, mas a verdade é que já estou num andamento que não me é familiar. Ou seja, digo que a moto me parece muito leve para atacar curvas a esta velocidade (não vou confessar), mas não deixo de o fazer e cada vez com mais optimismo. Porque o que acontece é que a Brutale faz tudo tão depressa e bem que não há tempo para pensar em disparates. O nível de concentração quando se conduz esta MV ao ataque tem que ser total. Ao ataque? Pois… Creio que apreensão já deu lugar à diversão, logo, à confiança. Está na altura de redobrar o cuidado. Confiança a conduzir a Brutale ao ataque. Impressionante a evolução do estado de espírito que sinto com esta moto. Começo a achar que já não tenho idade para isto – nasci nos anos 70, para não confessar tudo – e já me sinto com 25 anos outra vez. Como é que isto acontece? A resposta está nesta incrível naked italiana.
Do receio à excitação
Na prática, a Brutale faz tudo o que lhe peço, com uma obediência exemplar. Cola-se à trajectória pretendida com grande acutilância e aguenta de forma irrepreensível a entrada do acelerador em acção. É difícil acreditar que esta moto dispensa amortecedor de direcção.
A travagem é…brutal. Potente, eficaz e fácil de dosear. O ABS pode ser desligado. Mas não é preciso. Só para alguns. Poucos.
O motor é um poço de força que nos empurra como um foguete, sobretudo em baixo e médio regime, graças a uma curva plana de binário entre as 5500 e as 9000 rpm. E com um som metálico estridente que mexe com qualquer um. Há quem se queixe que está menos audível do que no modelo anterior. Não é o meu caso.
O acelerador ride by wire tem a sensibilidade certa, o que também pode ser alterado com o botão que gere os mapas do motor. A escolha é entre Rain, Normal, Sport e Custom, este último totalmente personalisável em vários pârametros. No modo “Rain”, tudo é ajustado para maior suavidade (resposta do acelerador ou o grau de acção de travão motor) e a potência é reduzida cerca de 20%. Por falor em botões, a ergonomia não é a melhor, pela sua disposição que obriga a muito hábito para usar correctamente os “piscas” ou a buzina.
O sistema quickshift permite passar de caixa para cima e para baixo sem uso da embraiagem, o que torna tudo ainda mais rápido. O som nas passagens que são feitas para lá das 11 000 rpm é viciante. No entanto, não está isento de falhas. Além de algumas passagens falhadas, poucas, mas que acontecem, este sistema é alérgico a quem se esquece do pé no selector, nas reduções. Sem aviso, dá uma aceleração involuntária, algo que já tinha sentido na Turismo Veloce, o que obriga a displinar muito bem pés esquerdos preguiçosos, sob pena da moto acelerar quando menos se espera.
A Brutale é uma máquina infernal, que evoluíu e foi afinada para dar muito prazer a um leque mais alargado de condutores. Trava que se farta, insere-se em curva com uma eficácia incrível, mantém um equilíbrio notável em todo o tipo de trajectórias, sejam lentas ou muito rápidas, e garante um nível de tracção muito elevado quando rodo o acelerador sem cerimónia. Parte da responsabilidade é partilhada pelos Pirelli Diablo Rosso III, muito bons assim que atingem a temperatura ideal. Para se ter uma ideia do nível tecnológico, o controlo de tracção pode ser regulado em 8 estágios de intervenção, e desligado, claro.
A exposição ao vento, o conforto, o diâmetro de viragem (complica as manobras) e algumas falhas do quickshift são as únicas críticas que posso fazer à moto mais emocionante já conduzi até agora.
A Brutale apresenta um quadro tubular em aço com as traves laterais e o braço oscilante em alumínio. A alteração do ângulo de caster e o aumento da distância entre-eixos em 20 mm, vieram melhorar a estabilidade da nova edição da Brutale 800. A isto junta-se uma forquilha invertida Marzocchi com um amortecedor traseiro Sachs totalmente reguláveis. O seu trabalho é irrepreensível, mesmo com a sensibilidade ao mau piso, o que só reforça a ideia de que a pista é o melhor palco para explorar esta MV Agusta.
Aliados às qualidades do chassis estão um motor totalmente renovado e uma electrónica aprimorada. Já para não falar dos travões. E que travões…
Novas árvores de cames, novos êmbolos, sistemas de admissão e escape revistos, são algumas alterações introduzidas no motor de 3 cilindros que passou a cumprir a norma Euro IV. Está mais eficiente e conta com 90% do binário entre as 5800 e as 10 200 rpm. A 6ª relação da caixa de velocidades recebeu um escalonamento mais longo, o que também contribui para a redução de 20% nos consumos.
Os intervalos de manutenção são 15 mil quilómetros.
Ficha Técnica
798 CC
116 cv
TIPO 3 CIL. EM LINHA, REFRIGERAÇÃO LÍQUIDA
DISTRIBUIÇÃO 12 VÁLVULAS
BINÁRIO 83 NM ÀS 7600 RPM
EMBRAIAGEM MULTIDISCO EM ÓLEO
CAIXA 6 VELOCIDADES
TRANSMISSÃO POR CORRENTE
QUADRO TUBULAR EM AÇO
SUSPENSÃO DIANTEIRA FORQUILHA DE 43 MM, CURSO DE 125 MM
SUSPENSÃO TRASEIRA BRAÇO EM ALUMÍNIO, CURSO DE 124 MM
TRAVÕES DISCOS DIANTEIROS DE 320 MM + DISCO TRASEIRO DE 220 MM COM ABS
RODAS 120/70 ZR17’’ + 180/70 ZR17’’
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS 1400 MM
ALTURA DO ASSENTO 830 MM
PREÇO BASE: €12,990
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Texto: Luís Guilherme